domingo, 28 de dezembro de 2008

O porquê do nome "Caixa de Badulaques"



Rubem Alves criou seu "Quarto de badulaques".E assim o definiu:

"- “BADULAQUE, s. m.: Guisado de fígado e bofes; coisa miúda, ou velha, de pouco valor; o que as mulheres põem no rosto para amaciar ou enfeitar a pele.“ Está no Aurélio. No sobradão colonial do meu avô, com sala de visitas de teto barroco, piano Pleyel vindo da França, castiçais para velas, vidros coloridos importados e desenhos dourados, havia um quartão que as tias mantinham fechado à chave (aquelas chavonas pretas, enormes, que se pegam com a palma da mão) e que nós, os sobrinhos, apelidamos de “quarto do mistério“. Sobre ele escrevi uma crônica, que se encontra no livro O Quarto do Mistério. Nele se encontravam coisas maravilhosas: canastras antiquíssimas cheias de coisas velhas, aparelhos de medicina que meu tio médico havia abandonado, duas cítaras bordadas em madrepérola, caixas com bisnagas de tinta (minhas tias eram prendadas; pintavam, tocavam cítara, piano, bandolim...), uma vitrola sem a corneta, revistas, um relojão de parede redondo, parado.... Os sobrinhos eram proibidos de entrar lá, por causa da poeira e das teias de aranha. Mas a gente roubava a chave, entrava, trancava por dentro, e ficava viajando por mundos imaginários. E havia um outro quarto, não tão proibido, o “quarto dos badulaques“. Lá não se servia guisado de fígado e bofes e nem havia as coisas que as mulheres põem no rosto para amaciar ou enfeitar a pele. Lá se encontravam “coisas miúdas, velhas, de pouco valor“, quinquilharias sem conta, brinquedos, livros de figura... Pois eu resolvi criar um “quarto de badulaques“ aqui no jornal. Os redatores do Caderno C, delicadamente me informaram que eu estava ultrapassando os limites. Além da crônica eu colocava, ao final, uma série de coisinhas, dicas, pitadas, informações e, no frigir dos ovos, minha escritura acabava por ocupar uma página inteira. Ouvi, concordei, obedeci. As ditas coisinhas são pensamentos avulsos que aparecem e desaparecem, nunca serão transformados em crônicas, porque o tempo não dá. Mas são divertidas. E eu não quero jogá-las no lixo do esquecimento. Assim, resolvi criar para elas um “quarto de badulaques“."

E eu, modestamente,claro, adotei a idéia pois intento falar brevemente de coisas pelas quais tenho alguma simpatia.Coisas avulsas,preciosas, talvez velhas, ou sem muito valor mas que de alguma maneira fazem parte de mim.Minha caixa de badulaques,agora aberta, aqui.

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